Após onda de suicídios, Foxconn aumenta salários dos empregados na China

03/06/2010
David Barboza*
The New York Times

Em Xangai | China

Foto: Tiê Sangue sob chuva, por Elisabete Santana

Devido à escassez de mão-de-obra e uma série de suicídios neste ano em suas grandes fábricas no sul da China, a Foxconn Technology disse na quarta-feira que aumentaria imediatamente em 33% os salários de muitos de seus trabalhadores chineses.

O aumento salarial é a mais recente indicação de que os custos trabalhistas estão aumentando nos centros manufatureiros costeiros da China e que os trabalhadores estão exigindo salários maiores para compensar um aumento da inflação e os crescentes custos dos alimentos e propriedades.
Na quarta-feira, a Honda Motor disse que resolveu uma greve no sul da China e retomou as operações em uma fábrica de transmissão ali, após concordar em dar aos 1.900 trabalhadores chineses um aumento salarial de 24%.

A greve na Honda, que durou mais de duas semanas, foi uma rara demonstração de poder dos trabalhadores chineses, que normalmente não são autorizados pelo governo a realizar greve e abandonar o trabalho visando salários mais altos.

Na Foxconn, o salário base para um trabalhador da linha de montagem em Shenzhen deverá aumentar de 900 yuans (US$ 132) por mês para 1.200 yuans (US$ 176). O salário mínimo mensal em Shenzhen é de 900 yuans.

O anúncio ocorre uma semana após o presidente da Foxconn, Terry Gou, ter visitado suas fábricas na cidade de Shenzhen, no sul da China, e prometido fazer todo o possível para por um fim à onda de suicídios e melhorar as condições na Foxconn, que é a maior fabricante mundial de componentes eletrônicos do mundo.

A polícia diz que 10 trabalhadores da Foxconn cometeram suicídio neste ano em Shenzhen.

A empresa, com sede em Taiwan e que emprega mais de 800 mil trabalhadores na China, negou que os suicídios estivessem relacionados ao trabalho ou estivessem acima da média nacional, dizendo que foram resultado de males sociais e problemas pessoais dos jovens trabalhadores migrantes. A Foxconn disse na quarta-feira que a decisão de aumentar salários não foi uma resposta direta aos suicídios.

Mas a Foxconn, que produz componentes eletrônicos e de computador para a Dell, Hewlett-Packard e Apple, está sob crescente escrutínio nos últimos anos devido aos relatos recorrentes de más condições de trabalho em suas fábricas, incluindo longas jornadas e queixas de ativistas de direitos trabalhistas de que a empresa trata os trabalhadores como máquinas.

Apple, Dell e HP disseram na semana passada que estavam preocupadas com os recentes suicídios e estavam investigando a situação na Foxconn. As empresas disseram que todos seus fornecedores globais devem atender aos padrões trabalhistas internacionais e passar por auditorias independentes.

Steve Jobs, o presidente-executivo da Apple, disse na terça-feira, durante uma conferência de tecnologia na Califórnia, que estava preocupado com as mortes na Foxconn, mas disse que a fábrica não era um estabelecimento escravizante, acrescentando que a Apple estava “tentando descobrir o que está acontecendo”.

Como a maioria das empresas manufatureiras no sul da China, a Foxconn está tendo dificuldade para contratar milhares de trabalhadores em um momento em que a economia passa por um boom e há escassez de trabalhadores migrantes sem qualificação em muitas partes da zona costeira da China.

Muitos trabalhadores migrantes, que geralmente vêm das províncias do interior para as cidades costeiras à procura de trabalho nas fábricas, se queixam de que os salários nelas não acompanharam o ritmo da inflação. Muitos deles decidiram procurar trabalho mais próximo de casa.

Como resultado, um aumento de 33% nos salários da Foxconn poderia ser traduzido em custos trabalhistas ainda maiores. Huang, da Foxconn, disse que a empresa ainda não calculou seu impacto sobre a lucratividade.

Mas Debby Chan, diretora de projeto da Estudantes e Acadêmicos Contra o Comportamento Corporativo Impróprio, um grupo de direitos trabalhistas com sede em Hong Kong, disse que os aumentos salariais foram insuficientes.

“Nós estamos defendendo um salário digno, que achamos que deveria ser entre 1.700 a 2.100 yuans por mês”, disse Chan na quarta-feira. “E também temos outras exigências, como a Foxconn examinar os problemas de sua metodologia de gestão.”

*Bao Beibei contribuiu com pesquisa. Miguel Helft, em Rancho Palos Verdes, Califórnia (EUA), contribuiu com reportagem.
Tradução: George El Khouri Andolfato
 
UOL Notícias Internacional -> http://bit.ly/bruL6o

0 comentários:

Postar um comentário

 
© 2009 - Soma.CP Comunicação | Communication | Comunicación | Free Blogger Template designed by Choen

Home | Top